Era a terceira vez que aquele grupo se reunia. Começou a assembléia com uma moça muito bonita falando sobre memória, exatamente o mesmo tema em que se encerrou na última reunião. Ela falou de um fato físico facilmente explicável que é o tempo encurtado nos dias de hoje, que com o passar do tempo o dia perdeu muitos minutos e algumas horas. Porém, mesmo sabendo-se disso, a sociedade ainda acredita hipocritamente que o dia ainda tenha 24 horas, quando se sabe é claro que o dia passou durar somente 19 horas e 27 minutos. Então moça bonita falou de um certo exercício mágico ancestral, que podia fazer o tempo voltar a ser mais lento, e o dia voltar a ganhar 24 horas, sendo possível ganhar até mais que 24 simples horas, chegando mesmo ao infinito de horas. Era um exercício dos ancestrais deles, de mexer numa determinada parte do corpo que haviam parado de mexer, a memória, e que quanto mais se toca nela, seja a memória pessoal, a memória pessoal de outro, ou a memória de uma época, mais o tempo passava devagar. Então depois disso, uma rapaz muito magro e tímido tomou o centro da assembléia e disse que uma amiga sua havia feito esse exercício com as memórias de uma tia dele, e ele afirmou piamente que o exercício funcionara. Depois ele lembrou que também já havia feito esse exercício em um grupo de pessoas para lembrar uma época muito especial daquela mesma tia dele, e que também havia funcionado. Então um outro rapaz, de aparência muito familiar, explanou sobre a utilização da mágica memória para a formação da identidade de determinados povos. Um outro rapaz mostrou um exemplo prático de como a memória formou a identidade de uma população de uma cidadezinha que era composta de somente três habitantes. Então a senhora mais velha que sempre conduzia aquele grupo, como nas últimas reuniões, fez uso de seus poderes mágicos e conduziu o corpo dos demais participantes somente pelo comando de voz. Ela os fez repetir involuntariamente gestos que eles fazem em momentos muito sercretos, como trocar de roupa e tomar banho, e os fez repetir tantas vezes e cada vez mais rápidos, que o gesto se tornou algo grotesco, algo fora do corpo daqueles jovens, como se cada um deles fosse únicos e ao mesmo tempo muitos. De modo que aquelas personalidades entrassem num inevitável conflito, numa repentina discussão e que não os levaria a lugar nenhum que não fosse para as suas próprias casas.
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