segunda-feira, 5 de abril de 2010

É muita narrativa enviesada...

Uma segunda vez aquele grupo de pessoas se encontrou para conversar e fazer trocas que resultassem numa espécie de experimento. Um rapaz muito sábio, se levantou primeiro, e fez toda uma contextualização histórica de forma primorosa, porém foi sentido que lhe faltou algo mais substâncial, algo mais objetivo, para que pudesse se fazer entender daquilo que havia estudado, mas mesmo assim ele o fez na sua postura mais séria, o que o fez merecer tantos aplausos. Depois uma mocinha muito comportada, sentou-se ao meio da conferência, e fez o estranho exercício de mostrar na prática-falada, o que o rapaz havia tentado explanar. Mas ela falou de experiências pessoais para demonstrar o que estava falando. Então uma forte luz se ascendeu. Só então o grupo foi compreender do que se tinha falando, falava-se de histórias: histórias dos semelhentes, histórias de pessoas, histórias humanas. Histórias entrelaçadas umas as outras dentro de um único contexto bastante expressivo, feita de fragmentos e cacos de outras tantas histórias. Então a mulher que sempre conduzia aquela esquisita experiência, se usou de algumas palavras de poder e magia, e fez que todos os mais jovens, meio que involuntáriamente, voltasse a reviver uma pequena cena-memória-fotografia-relance do seu passado pueril naquele mesmo lugar, de modo que seus corpos recordassem um tipo de registro que nem sabiam que tinham, de modo que entrassem numa espécie de transe coletivo, de memórias entrelaçadas, mesmo que em passados diferentes, de modo que passassem a dividir o mesmo lugar comum em ações gritatemente estranhas e desconexas, de modo que os próprios jovens assumissem o controle um dos outros por meio de voz ou da própria sensibilização mental, de modo que passasem a passear por territórios muito secretos um dos outros, de modo que estavam brincando com o ouro e sangue uns dos outros. Isso, mesmo com jovens inexperientes, filhos de uma pátria de lembranças perdidas, e distantes de uma terra de promissões futuras, não é correto. E justamente por isso, um jovem tímido e franzino, não quis se propor aos exercícios, pois não se sentia preparado para entrar em campos tão obscuros e perigosos como o da própria memória. Isso porque, nem todos querem se enviesar por teias de narrativas que podem esmagar a razão e dilacerar um coração.

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